“Venham comigo e vejam um homem que me disse tudo o que eu já fiz: Não seria ele, por acaso, o Cristo?” (Joao 4:9)

A cada ano o papel da mulher na sociedade vem sendo destacado. Embora existam tremendas desvantagens ainda em relação aos homens, em praticamente todas as áreas, as mulheres tem alcançado muitas conquistas recentemente [1].
Ao longo da história do Cristianismo as mulheres tem exercido um papel de destaque como pregadoras e missionárias. Muitas, a exemplo de Susana Wesley, Funny Crosby, etc. tem usados seus talentos e amor a Deus para transformar o mundo.
Segundo os depositários do Patrimônio Literário de Ellen White, na apresentação do livro Filhas de Deus, compilação de Ellen White:
Durante a segunda metade do século 19, as mulheres puderam exercer mais importantes funções de liderança em algumas igrejas evangélicas. Isso também aconteceu na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Três das primeiras onze pessoas a assumir a tesouraria da Associação Geral (1871-1883) foram mulheres. Dos 19 editores da revista The Youth's Instructor, que atuaram entre 1852 e 1899, 11 foram mulheres. L. Flora Plummer dirigiu o Departamento da Escola Sabatina da Associação Geral por 23 anos. A igreja adventista, durante o período de 1878 a 1910, teve 31 mulheres que receberam credenciais para pregar. [2]
Qual o papel feminino na pregação do evangelho, no contexto da Igreja Adventista do Sétimo Dia? Com base na experiência da mulher samaritana e outras do Novo Testamento, esse sermão destaca a relevância das mulheres na missão global do Adventismo.
Ao longo da história do Cristianismo, existem alguns exemplos de mulheres que superaram homens em atividades missionárias. Como exemplos, poderíamos citar Susannna Wesley e Ellen G. White. Susana Wesley “foi a precursora das pregadoras metodistas e foi quem inspirou Jonh Wesley para a abertura da pregação as mulheres e apoiou a pregação ao ar-livre para leigos. ‘Ela praticava o que ensinava a seus filhos’.” [3] Em muito ela superou seu esposo, o reverendo Samuel Wesley, com quem teve 19 filhos. Muitas vezes, o esposo contraia dividas e deixava Susannna em situação difícil, que criou os filhos sozinha, por longos períodos. Além disso, ela desenvolveu um método de educação para os filhos invejável. Susana é chamado carinhosamente a Mãe do Metodismo no mundo, pois dois de seus filhos, Jonh e Carlos Wesley, foram grandes personagens na história dos reavivamentos do século XVII.
Ellen White, por sua vez, foi cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo dia. Ela escreveu bem mais que seu esposo, Tiago White, que foi o principal líder adventista nas primeiras décadas da denominação. Ela também atuou por mais tempo, já que seu esposo faleceu com 60 anos e ela com 87. Seu ministério, por outro lado, foi mais amplo, pois ela viajou por três continentes e dezenas de países, diferente de Tiago, cujo ministério foi centrado nos Estados Unidos. Embora o propósito não seja desvalorizar o papel masculino, esse artigo deseja destacar o papel feminino das mulheres na pregação do evangelho.
O Chamado de Deus para as mulheres se envolverem na Missão Adventista
A pregação do evangelho a todas as nações foi uma ordem direta do próprio Cristo a cada um de seus seguidores, tanto homens como mulheres. Pessoas de ambos os sexos e faixas etárias são convocadas a dar ao mundo as boas novas de um Salvador crucificado, ressurreto e prestes a vir (Mateus 24:14; 28:18-20; Marcos 16:15-16; Atos 1:8, etc.).
O chamado de Jesus a uma mulher samaritana demostra que somos enviados, depois de aceitarmos a Cristo como Salvador e Senhor. Quem eram os samaritanos nos tempos de Jesus? Qual a sua origem?
“Habitando a Samaria, em pleno coração do país entre a Galiléia e a Judéia, os samaritanos formam certamente, no primeiro século, uma comunidade característica do meio palestino. [...] segundo os próprios samaritanos, eles descenderiam das tribos de Efraim e Manassés [...] e seriam, os únicos 4 continuadores da fé israelita tal como ela é expressa no Pentateuco. [...] Sua fé se baseia em cinco fundamentos: 1) o monoteísmo: Deus é um só, infinito e todo-poderoso; 2) Moisés é o seu único profeta; 3) o Pentateuco é o único livro inspirado; 4) o monte Garizim é o único lugar escolhido por Deus para um santuário; 5) os mortos ressuscitarão para o último juízo.[...] esperavam um messias, novo Moisés que chama de taheb (“aquele que volta” ou “restaurador”) [4]
A inimizade entre judeus e samaritanos existia a séculos e se intensificou durante o império grego. Bayley explica a situação histórica, que afastou esse povo dos seus vizinhos judeus.
Trezentos anos antes, os gregos tinham usado Samaria como base para o controle deles do território judeu. Os judeus encontraram oportunidade para retaliar (128 a.C.), destruindo o templo samaritano no cume do monte Gerizim. Os samaritanos reagiram invadindo a área do Templo de Jerusalém alguns anos antes do nascimento de Jesus e espalhando ali ossos dos mortos na véspera da Páscoa, a fim de profanar o edifício e impossibilitar os judeus de celebrarem a festa. [5]
Em meio a esse preconceito Jesus decidiu passar por Samaria, rumo a Jerusalém. Ali no poço de Jacó pediu de beber a uma mulher samaritana. Seu objetivo não era saciar a sede, mas oferecer água da vida. Ela queria chamar essa mulher para uma missão especial: ser sua embaixadora naquele lugar desprezado por seus irmãos judeus, mas amado por Seu Pai celestial. A melhor testemunha seria alguém de seu próprio povo.
Convém salientar que “a educação samaritana das crianças era direcionada tanto para os meninos como para as meninas”. Levando em conta que a mulher samaritana era apta para o estudo da Lei, o testemunho era válido em questões legais. Neste sentido, o testemunho dado pela samaritana aos seus concidadãos, possui legitimidade, motivo pelo qual os samaritanos vão ao encontro de Jesus para o escutar (cf. Jo 4.39). Além do mais, o diálogo entre Jesus e a Samaritana possui um teor teológico elevado, como se pode observar sobre o verdadeiro lugar de culto, isto evidencia que a Samaritana possui base para este tipo de diálogo. [6]
Assim como a samaritana, cada mulher adventista hoje, que encontrou em Jesus um Amigo, Salvador e Redentor, tem o mesmo chamado. Pois a mulher cristã “fala com sabedoria, e a instrução da bondade está na sua língua.” (Provérbios 31:26).
“A Bíblia menciona várias mulheres, por exemplo: Dorcas, que continuamente praticava ações de bondade e caridade (Atos 9:36-39); uma Maria que "muito trabalhou por vós" (Romanos 16:6); Febe que servia à igreja de Cencréia (Romanos 16:1-2); e Maria, irmã de Marta e de Lázaro, que ungiu o corpo de Jesus para seu sepultamento (Marcos 14:3-9). A Bíblia raramente menciona mulheres cristãs sem falar sobre suas boas obras (1 Timóteo 2:9-10; 5:10).” [7]
O papel das mulheres na missão global adventista
Necessitam-se mulheres cristãs. Há um vasto campo onde elas podem fazer um bom trabalho para o Mestre. Há mulheres nobres, que têm tido a coragem moral de decidir em favor da verdade manifesta no peso da evidência. Elas têm tato, percepção e boa habilidade, e podem fazer o trabalho de bem-sucedidas obreiras cristãs. Há trabalho negligenciado ou incompleto que podia ser inteiramente completado pelo auxílio que essas irmãs podem dar. Elas podem alcançar uma classe que os pastores não alcançam. Há cargos na igreja que elas podem ocupar de modo aceitável, e muitos ramos do trabalho da igreja dos quais poderiam encarregar-se, caso fossem devidamente instruídas. Podem as mulheres fazer um bom trabalho no campo missionário, escrevendo cartas a amigos, descobrindo assim os seus verdadeiros sentimentos em relação à causa de Deus. Muitos itens valiosos são trazidos à luz por esse meio. [8]
Um poder que sobrepuja: o diferencial das mulheres na proclamação do evangelho
Ellen White, na obra já citada nesse artigo (Filhas de Deus), lembra o papel peculiar das mulheres no trabalho missionário, destacando detalhes e qualidades que não eram percebidos no século XIX, quando Ellen escreveu. Embora atualmente muitas coisas mudaram, a mensagem da Mensageira do Senhor ainda alcança nossos dias.
O Senhor da vinha está dizendo a muitas mulheres que nada fazem agora: “Por que estais” ociosas? Elas podem ser instrumentos de justiça, prestando santo serviço. Foi Maria quem primeiro pregou um Jesus ressurreto; e a influência refinada e suavizante de mulheres cristãs é necessária na grande obra de pregação da verdade agora. Se houvesse vinte mulheres onde agora só há uma, que pudessem fazer da salvação de almas sua estimada tarefa, veríamos muito mais [10] conversos à verdade. Zelosa e continuada diligência na causa de Deus fariam inteiro sucesso, e as assombraria com o seu resultado. A obra deve ser completada mediante paciência e perseverança, e nisto se manifesta a real devoção a Deus. Ele requer atos, e não apenas palavras. [9]
O Senhor tem uma obra para as mulheres, bem como para os homens. Elas podem ocupar o seu lugar na obra nesta crise, e Ele atuará por intermédio delas. Se estiverem imbuídas com o senso do dever, e trabalharem sob a influência do Espírito Santo, terão a exata presença de espírito requerida para este tempo. O Salvador [11] refletirá sobre essas abnegadas mulheres a luz de Sua face, e lhes dará poder que excede o dos homens. Elas podem fazer na família uma obra que os homens não conseguem, obra que alcança o íntimo da vida. Podem aproximar-se do coração daqueles a quem os homens não chegam a alcançar. Seu trabalho é necessário. [10].
Deus considera todos os seres humanos iguais. Ele deseja usar tanto homens como mulheres como seus agentes na salvação de pessoas. A Igreja já reconheceu isso e tem procurado envolver todos na grande comissão. Ellen White, que foi uma ativa missionária crista, tem um chamado especial para todos, especialmente para as mulheres nesses dias finais da história humana.
“Todos quantos trabalham para Deus, devem possuir um misto dos atributos de Marta e de Maria — a boa vontade para servir e sincero amor pela verdade. O próprio eu e o egoísmo precisam ser descartados. Deus demanda fervorosas obreiras, prudentes, afetivas, ternas e fiéis aos princípios. Ele convida mulheres perseverantes, que não pensam tanto em si mesmas e em seus interesses pessoais, mas concentram o pensamento em Cristo, proferindo palavras de verdade, orando com as pessoas às quais conseguem acesso, trabalhando pela conversão de almas. [11]
Gostaria você, mulher adventista, se envolver na conquista de pessoas para o reino de Deus? Gostaria você, homem, apoiar o ministério das mulheres adventistas em sua congregação?
Ribamar Diniz
É pastor, escritor e editor. Mestre em Teologia pelo SALT/FADBA e pastor distrital na Missão Pará Amapá.
Referências:
[1] Unic Rio de Janeiro. ONU divulga estatísticas abrangentes sobre as mulheres. Disponível :https://unicrio.org.br/onu-divulga-estatisticas-abrangentes-sobre-as-mulheres/. Acesso em: 04 out. 2022.
[2] Ellen G. White. Filhas de Deus. Tatui: Casa Publicadora Brasileira, 2008. p. 04. Disponível em: https://egwwritings.org/book/b1731
[3] Odilon Massolar Chaves, Susanna Wesley: Uma mulher além do seu tempo, e-book.
[4] Larissa de Moraes Ribeiro1 Me. Lidiane Ribeiro da Silva Souza2 Me. Roberto Rohregger. Jesus e a Samaritana: Uma reflexão sobre a restauração da mulher em Cristo. Disponível em: http://faculdadebetania.com.br/revista/abril2019/jesus_e_a_samaritana_larissa_lidiane_e_roberto..pdf. Acesso em: 05 out. 2022.
[5] BAYLEY, K. E. Jesus pela ótica do Oriente Médio: estudos culturais sobre os Evangelhos. São Paulo: Vida Nova. 2016, p. 205. Citado em Larissa de Moraes Ribeiro1 Me. Lidiane Ribeiro da Silva Souza2 Me. Roberto Rohregger. Jesus e a Samaritana: Uma reflexão sobre a restauração da mulher em Cristo. Disponível em: http://faculdadebetania.com.br/revista/abril2019/jesus_e_a_samaritana_larissa_lidiane_e_roberto..pdf. Acesso em: 05 out. 2022.
[6] ARAÚJO, G. L de. Jesus e a Samaritana. Revista de Cultura Teológica. (s.l), (s.v), Nº 87, p. 231-249, JAN/JUN 2016, p. 247).
[7] Por Gary Fisher, O Papel das Mulheres no Plano de Deus. Disponível em: https://estudosdabiblia.net/d31.htm)
[8] Ellen G. White, Beneficência Social, 147, 148.
[9] White, Filhas de Deus, p. 17.
[10] White, Beneficência Social, 145.
[11] White, Testimonies for the Church 6:118.
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