O que fazer após o estudo de uma Lição da Escola Sabatina?

O papel da Lição da Escola Sabatina na Igreja Adventista: A Lição da Escola Sabatina é um Guia de Estudo da Bíblia publicado trimestralmente e usado pelos Adventistas do Sétimo Dia desde 1852, e em todos os países onde a Igreja está instalada. Semanalmente, os membros e interessados se reúnem para comentar o aprendizado durante a semana. Existe ainda, na Américo do Sul, o projeto Maná, que é uma grande campanha de assinaturas para estimular o acesso e estudo. Quem estuda a lição por cinco anos, terá feito um curso de teologia sem ir ao seminário. Depois da Bíblia, é o material mais universal entre os adventistas. A lição ultrapassa quaisquer barreiras, sejam elas geográficas, culturais, sociais, de gênero ou faixa etária. “A Lição da Escola Sabatina dos Adultos é preparada pelo Departamento da Escola Sabatina e Mistério Pessoal da Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia” e publicada em português pela Casa Publicadora Brasileira, editora da denominação. (Lição da Escola Sabatina, 4to trimestre de 2023, p. 3).
Sobre sua importância, Ellen White escreveu: “Uma porção do tempo de cada dia deve ser reservada ao estudo das lições, não meramente para aprender a repetir automaticamente as palavras, enquanto a mente não compreende seu significado, mas para ir ao próprio fundamento e tornar-se familiar com o que a lição pretende ensinar.” (O coração da Igreja: famílias unidas na Palavra e na missão, p. 30-31). A autora recomenda tanto a regularidade como a aplicação do estudo na vida prática. Esse conselho tem sido seguido e muitos adventistas modelam suas vidas através dessas preciosas lições espirituais. Além disso, a Igreja tem extraído preciosas lições para sua jornada missionária, ao longo do tempo.
A lição da Escola Sabatina do último trimestre, intitulada Missão de Deus, minha missão, tratou especificamente do tema da evangelização. O assunto me impressionou profundamente e refleti a respeito do conteúdo estudado e sua aplicação individual e coletiva, nesse novo ano.
A lição da Escola Sabatina inovou: A principal inovação que notei é que a lição não teve um autor principal. Foram os Diretores dos Centros de Missão Global que escreveram, coletivamente, a lição sobre sua especialidade. No total, seis centros de missão são mantidos pela Associação Geral, e “seu propósito é ajudar os adventistas a saber como construir pontes de entendimento e amizade com pessoas das principais religiões e filosofias mundiais. Esses Centros nos ajudam a compreender as crenças e culturas de outras religiões mundiais e equipam os adventistas para interagir com elas em ambientes sociais e empresariais.” (https://www.globalmissioncenters.org/home).
A escrita coletiva enriqueceu o material, pois representa o pensamento de um grupo, além de ter sido feita por pessoas com reconhecida capacidade e experiência na missão da Igreja. Afinal de contas, para fazermos o trabalho do Senhor, precisamos associar-nos com outros. O individualismo, embora tenha seu lugar em determinadas tarefas humanas, não contribui para o alcance de pessoas para o reino de Deus. O senso de unidade na Igreja também é essencial para a concretização da grande comissão, confiada aos apóstolos como grupo (Mt 28:18-20). Repousa sobre a Igreja como corpo de crentes o dever de iluminar o mundo com a verdade presente (2Pe 1:12).
A lição nos ensinou que a missão é mais de Deus do que nossa. O aspecto teológico mais ressaltado ao longo do trimestre foi a verdade de que Deus é o maior missionário da história. Eu acrescentaria que o Senhor é o principal missionário do universo. Embora saibamos que apenas os seres humanos caíram em pecado e necessitam de salvação, as ações de Deus tem repercussões interplanetárias, já que seu plano foi estabelecido antes da função do mundo (Ap 13:8; Ef 1:4-5) e após sua culminação, garantirá a estabilidade eterna do Universo e dos seres criados (Na 1:7; Ap 22). A consciência e a dependência na liderança de Cristo em relação a esmagadora tarefa a nós confiada aliviará qualquer ansioso coração missionário. Foi Deus quem pensou a missão e é Ele quem a executa. Deus é o autor da Escritura e também do evangelismo. Embora sejamos convidados a partilhar dessa obra, devemos ter cautela para não assumirmos o papel do Eterno, a quem representamos e a quem devemos prestar contas de nosso serviço.
A lição nos desafiou a ação: Logo na introdução, o próprio guia diz: “O ponto central de cada lição será compartilhado na quinta-feira de cada semana: um desafio para sair e fazer algo.” (Lição da Escola Sabatina, 4to trimestre de 2023, p. 5). Para ampliar sua importância, os desafios foram apresentados em retângulos, no final da página, com um desafio teórico e outro prático. Dos treze desafios, 11 começam com o verbo “ore”, seguido de ideias para cumprir a missão. A oração é o começo da missão. Quando oramos, pensamos nas pessoas e abrimos espaço para Deus atuar. Não sei quantas igrejas e alunos deram a atenção devida a esses quadros. Por outro lado, a oração sozinha não cumpre a missão. Devemos usar outras ferramentas, tanto espirituais como materiais e logísticas para alcançar pessoas com a salvação. Durante aquele trimestre, postei alguns vídeos sobre os desafios, orientando os professores a discutir com seus alunos uma forma de implementá-los. Não sei quantos fizeram isso. Penso que tais ideias poderiam ser recortadas e guardadas para um lembrete contínuo sobre como fazer algo pela missão. Conhecimento sem ação gera estagnação.
A lição demonstrou que a missão é progressiva: A estrutura da lição, ao menos para mim, foi intencional. As primeiras duas semanas destacam o protagonismo de Deus na missão. Ele é o fundamento da missão. Devemos atuar com base a seu exemplo e direção. As três semanas seguintes tem seu foco na responsabilidade individual do missionário, o que envolve o seu chamado, sua disponibilidade (não dar desculpas), e seu preparo. Em seguida há grupos que devem ser alcançados e constituem nosso alvo; o próximo, os necessitados, os poderosos (semanas 7 a 9). Essas orientações ressaltam nosso dever de alcançar todas as classes de pessoas, pois “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10:34).
As semanas 10, 11 e 12, falam sobre diferentes aspectos da missão fora da nossa casa, bairro ou cidade, explorando projetos transculturais. Isso está pensado para os missionários adventistas que atuam ao redor do mundo, em países com pouca presença cristã, muita restrição a pregação e outros desafios. Mesmo lá, todo membro pode, de alguma forma, envolver-se, seja através de suas ofertas ou orações. Finalmente, a última semana fala sobre as consequências da missão de Deus e sua ênfase profética que deve ser dada atualmente. Após o trabalho ser concluído, “pecado e pecadores não mais existirão” (O Grande conflito, p. 678).
A lição questionou nossa lógica de missão: “O que é êxito na missão? Podemos ser tentados a pensar que são muitos batismos, igrejas grandes e ritmo rápido e crescimento... entrar com a verdade em cada tribo e grupo de pessoas na Terra, e que podemos acelerar esse processo usando o rádio, a internet e a TV. Embora tudo isso possa ser bom... nosso foco deve estar no processo; o foco de Deus estará no crescimento.” (LES, 4º T 2023, p. 143). Além do mais, os autores destacaram que “Os discípulos de Jesus são puros e permanecem leais a Ele como uma noiva pura ao seu noivo. Eles seguem o Mestre à medida que Ele os conduz por meio da voz mansa e suava do Espírito Santo. Isso inclui levar-nos ao trabalho missionário aos outros. Não há engano nesses discípulos. Eles não são desviados por dúvidas debilitantes, falsos ensinamentos nem imoralidade. Ele não se sentem moralmente superiores aos outros... O sucesso na missão está em fazer esse tipo de discípulo.” (LES, 4º T 2023, p. 143).
O que mudou em sua vida? No último sábado, eu acompanhei meus irmãos e irmãs em uma Unidade de Ação. Como era o 13º sábado, fiz comentários sobre o tema semanal e outros do trimestre. Ao final, fiz uma pergunta: Após passarmos três meses estudando sobre a missão, o que mudou em sua vida? A resposta a essa pergunta é fundamental. O propósito da lição não foi tanto acrescentar conhecimento, mas apelar ao envolvimento missionário direto.
Discutir teorias sobre mobilização laica, dons espirituais e crescimento de igreja são relevantes, mas somente quando nos mobilizamos, usamos nossos dons e nos comprometemos com nossa igreja local, as coisas irão mudar.
Segundo Wesley Fernandes, Coordenador da Escola Bíblia Novo Tempo na Bahia: “A igreja precisa sair de dentro da igreja e ir para as ruas, avenidas, bairros, praças, asilos, presídios, hospitais entre outros, fazendo o bem, levando amor ao próximo e a mensagem de Esperança da breve volta de Jesus aos que tanto necessitam. Os membros do corpo de Cristo precisam oferecer mais do que apenas consumir. Vivemos um momento onde grande parte dos membros quer apenas consumir bons programas, bons sermões, boas músicas, etc., mas oferecem pouco em prol da pregação do Evangelho através da missão que O Senhor confiou a cada um. A lição do último trimestre de 2023 mostrou que isso precisa mudar.”
Esse volume estudado foi um clássico. Pensei em arquivar, para consultas posteriores. Mas o que aprendi precisa fluir diariamente. Podemos arquivar o Guia de estudo, mas não o que ele propõe. Que o Espírito Santo, prometido por Cristo antes de sua ascensão aos missionários, tome posse de sua vida e, dotado de poder, você evangelize os lugares mais próximos e mais distantes de sua casa. (ver Atos 1:8).
Ribamar Diniz
Mestre em Teologia, Especialista em Missão Urbana (SALT/FADBA); Mestre em História Social (UNIFAP) e pastor na Missão Pará-Amapá.
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