
O ano de 2022 começou com um raio de esperança, após a redução da Pandemia do novo Corona vírus. Apesar das vacinas, as novas variantes do Corona vírus seguem fazendo vítimas. Além da Covid-19, começamos o ano acompanhando uma guerra sangrenta entre a Rússia e Ucrânia. Centenas de vítimas já morreram e propriedades materiais foram dizimadas no território ucraniano. Além desses problemas globais há uma série de dificuldade internas em nosso país, como as tragédias em Capitólio (com 10 mortos) e em Petrópolis, com 233 vítimas. Na semana da Páscoa, contemplamos, estarrecidos, um atentando no Metrô de Nova York, com 23 pessoas feridas.
Esses lamentáveis fatos gerados pela ação humana, por desequilíbrio ambiental ou causas desconhecidas, levam os cristãos a celebrar uma Páscoa triste. A doença, o sofrimento, o medo e o desamparo de milhões de pessoas geram a compaixão dos seguidores de Jesus Cristo, que observam no sofrimento desses inocentes um símbolo do padecimento de Seu Senhor, a dois mil anos atrás.
A Páscoa é celebrada, anualmente, de diferentes maneiras pelas religiões judaica e cristã, ao redor do planeta. Para os judeus, a Páscoa é uma festa religiosa com o propósito de evocar “a passagem da escravidão no Egito para a condição de liberdade” [1] enquanto para os cristãos, a Páscoa relaciona-se diretamente com a morte e ressurreição de Jesus, pois, no Novo Testamento, é interpretada como o cumprimento daquele sacrifício que salvou os israelitas do jugo do Faraó, pois “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” (1 Cor 5:7), libertando o povo de Deus do poder do pecado.
“A instituição da Páscoa se deu na noite em que o povo saiu apressadamente do Egito, sob o comando de Moisés, rumo à Terra Prometida. Todas as famílias israelitas foram orientadas por Moisés a que preparassem, para aquela noite, um cordeiro assado, o qual deveria ser comido em família (Êx 12.1-11). O termo ‘páscoa’ vem do hebraico pessach e significa ‘passagem’. É uma alusão à passagem do anjo que, naquela noite fatídica, feriu os primogênitos egípcios, poupando, porém, as casas dos israelitas marcadas com o sangue do cordeiro nas vergas e ombreiras das portas. O sangue do cordeiro era o sinal para que o anjo do Senhor passasse além das famílias israelitas, poupando-as (Êx 12.12-28; Hb 11.28). O Novo Testamento faz uma releitura da Páscoa e aponta Jesus como sendo o Cordeiro pascal. João Batista refere-se a Jesus, dizendo: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!’ (Jo 1.29). O apóstolo Pedro afirma que fomos resgatados ‘pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo’ (I Pe 1.19). Na perspectiva cristã, a Páscoa significa, portanto, o sacrifício de Cristo. Ele derramou Seu precioso sangue na cruz para livrar da condenação do pecado a todos os que creem.” [2]
Para a Igreja Adventista do Sétimo Dia, o rito da Páscoa se cumpriu na Paixão de Cristo e pode ser celebrado através da cerimônia da comunhão, instituída por Jesus como um memorial de sua morte e um anúncio de Sua vinda (Mt 26:26-30; 1 Cor 11:23-26). Por essa razão, os adventistas não atribuem um valor intrínseco a celebração, como fazem os católicos, embora aproveitem a data para compartilhar o evangelho (por séries evangelísticas), fazer doações aos necessitados (mutirão de Páscoa) e em alguns lugares reunir-se em família para uma refeição especial.
Para Ranieri Sales, “biblicamente, embora entremos no clima da Páscoa, como todos os cristãos, não limitamos nossa visão de seu significado a uma data específica, pois quando Jesus veio ao mundo, pouco antes de Sua morte. Ele celebrou a Páscoa com os discípulos servindo o pão e o vinho como símbolos de Seu corpo e de Seu sangue derramado. Aqui é feita a conexão entre a Páscoa dos judeus e a Ceia do Senhor”. [3]
Apesar do belo significado teológico, a Páscoa de 2023 será uma das mais tristes. Afinal, é preciso ser insensível para não se compadecer do estado atual do mundo. Como posso reunir minha família em casa, quando centenas de pessoas perderam seu lar em Petrópolis? Ou comer alegremente a ceia pascal, enquanto milhares de ucranianos perderam tudo? Como celebrar a vida, enquanto milhões morreram nos últimos dois anos? Apesar da tristeza, podemos manter a esperança e as comemorações, pois, em breve, Cristo, nosso Cordeiro Pascal, voltará para inaugurar Seu reino de paz. (2Pe 3:13).
Ribamar Diniz
Referências:
[1] A Celebração da Páscoa Judaica e as Tradições Culturais: Simbologia e significado. TOMAZ, Paulo Cesar (PPH/UEM) PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo (UEM/NEE/UNICAMP). (http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/st1/Tomaz,%20Paulo%20Cesar.pdf). Acesso: 14 de abril de 2022.
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