
Ellen G. White, cujos escritos são considerados inspirados pelos adventistas, escreveu sobre uma grande variedade de temas. Os princípios expressos em seus escritos com relação a aspectos práticos e conduta cristã ainda são relevantes e necessários para nós, hoje[1]. Apesar de seu tema preferido haver sido o amor de Deus [2], ela dedicou várias linhas ao assunto do vestuário. Seus principais conselhos acerca do assunto podem ser encontrados na série Testemunhos para a Igreja, em materiais espalhados nos 9 volumes [3]. Uma excelente compilação, intitulado Modéstia cristã: um ato de adoração [4], preparada pelo Centro de Pesquisas Ellen G. White do Brasil, oferece um panorama representativo de seus escritos acerca do tema. Esse material reúne, em um só livro, os principais conselhos da serva do Senhor sobre vestuário e joias.
Os conselhos whiteanos podem ser agrupados de diferentes maneiras. Aqui adotaremos o critério de tópicos: o vestuário e a vida espiritual; o vestuário para diferentes classes de pessoas e orientações gerais sobre vestuário. Entre os principais conselhos de Ellen White, podemos destacar.
O vestuário e a vida espiritual
Esse primeiro tópico oferece uma compreensão equilibrada sobre o vestuário nos escritos de Ellen White. Podemos destacar ao menos três orientações principais:
A vida cristã e o desenvolvimento do caráter exigem uma reforma do vestuário
O início da vida cristã através da conversão afeta todas as áreas e gostos do ser humano, inclusive o vestuário. “A idolatria praticada em matéria de vestuário é enfermidade mortal; não deve ser introduzida na nova vida. Na maioria dos casos a submissão as reivindicações do evangelho requer uma mudança decisiva em matéria de vestuário.”[5] Além disso, o desenvolvimento do caráter e a vida devocional dos conversos pode ser comprometido pela “idolatria do vestuário.”[6]
“Por toda parte se manifestam o orgulho e a vaidade; mas os que são inclinados ao olhar ao espelho para se admirarem a si mesmos, pouca propensão tem de contemplar a Lei de Deus, o grande espelho moral. Esta idolatria do vestuário destrói tudo quanto é humilde, manso e amável no caráter. Consome as preciosas horas que deviam ser consagradas a meditação, ao exame interior, ao estudo da Palavra de Deus apoiado por oração...”[7]
O vestuário não pode ocupar o lugar de Cristo na vida cristã
Embora a serva do Senhor tenha aconselhado a Igreja, famílias e indivíduos sobre a importante e delicada questão do vestuário, ela não deixou dúvidas de que Cristo tem a primazia na vida cristã.
“Não há razão de fazer do assunto do vestuário o ponto principal de nossa religião. Há algo mais valioso sobre o que falar. Falemos de Cristo, e quando o coração estiver convertido, tudo que não está em harmonia com a palavra de Deus cairá.”[8]
Muitos acabam, infelizmente, substituindo as vestes de justiça por suas próprias roupas.
Além disso, há o perigo de extremismos nessa questão:
“Muito sentimento infeliz foi suscitado por aqueles que estavam constantemente impondo a reforma do vestuário sobre suas irmãs. Com os extremistas, essa reforma parecia constituir a síntese e a substancia de sua religião. Era ao tema de conversação e a preocupação de seu coração; e a mente deles era assim desviada de Deus e da verdade. Deixaram de abrigar o espírito de Cristo...” [9]
Nos dias de Ellen White e hoje, “algumas ficaram grandemente perturbadas por [ela] não ter tornado o vestuário uma questão de prova...” [10] Ela também rogou que honrássemos a jesus através de nossa forma de vestir, evitando a idolatria da moda. Cristo, para Ellen White, é tanto o modelo como a motivação para nosso vestir e para tudo mais.
O vestuário afeta positiva ou negativamente a vida espiritual e o testemunho cristão
Muitos imaginam que seu guarda roupa é neutro, que não influencia sua espiritualidade ou impacta aqueles com quem convive. Isso está longe da verdade. Do ponto de vista positivo, a adequação ao princípio bíblico da modéstia gera paz com Deus.
“O apóstolo coloca o adorno exterior em positivo contraste com um espírito manso e quieto, e dá então testemunho em favor do valor relativo deste – ‘que é precioso diante de Deus’ I Ped. 3:4. Há um claro contraste entre o amor aos adornos exteriores e graça da mansidão, do espírito quieto. Unicamente quando buscamos em tudo conformar-nos à vontade de Deus, é que reinarão na alma essa paz e alegria.” [11]
Do ponto de vista negativo, o vestuário pode levar o cristão a definhar na fé, desonrar o Criador e tornar seu testemunho insípido, numa sociedade carente do “sal da terra” (Mt 5:13).
“Foi o adversário de todo o bem que instigou à invenção das sempre mutáveis modas. Coisa alguma deseja ele tanto como ocasionar a Deus pesar e desonra mediante a miséria e a ruína dos seres humanos. Um dos meios por que ele o consegue mais eficazmente são as invenções da moda, que enfraquecem o corpo da mesma maneira que debilitam a mente e amesquinham a alma.”[12]
Note que a moda afeta, da mesma forma, os aspectos físico, mental e espiritual. Saber disso deveria ser suficiente para sermos mais zelosos na reforma do vestuário.
Além disso, o amor ao vestuário pode causar apostasia, negligencia de deveres, perda do amor a Deus. Pode também levar-nos a pecar contra nossa alma e contra Deus, deteriorar o intelecto, carcomer a espiritualidade, separar-nos de Deus, adorar o próprio eu e levar “muitos a se afastarem de Deus”.[13]
O vestuário para diferentes classes de pessoas
O traje da família pastoral
“O cuidado do vestuário é um item importante. Tem havido deficiência neste sentido da parte dos pastores que creem na verdade presente. A roupa de alguns tem sido até mesmo desalinhada. Não somente tem havido falta de gosto e ordem em arranjar o vestuário de maneiro que fique bem na pessoa, e de cor conveniente e adequada a um ministro de Cristo, mas o traje de alguns tem sido até desasseado. Alguns pastores usam colete de cor clara, ao passo que as calças são escuras, ou um colete escuro e calças claras, sem gosto ou boa combinação do vestuário quando comparecem perante o povo. Estas coisas estão pregando às pessoas. O pastor lhes dá um exemplo de ordem e põe diante delas a conveniência de asseio e bom gosto em seu traje, ou lhes dá lições de desleixo e falta de gosto, que elas estarão em perigo de seguir.”[14]
“Tecido preto ou escuro é mais apropriado para o pastor no púlpito e causará melhor impressão nas pessoas, do que seria causada pela combinação de duas ou três cores diferentes em seu traje.”[15]
Além do cuidado na combinação das roupas e do tipo de cores, Ellen White aconselha o pastor a não negligenciar outros pormenores. “Os pastores algumas vezes se apresentam no púlpito com o cabelo mal penteado, parecendo não ter sido tocado pelo pente ou a escova há uma semana. Deus é desonrado quando aqueles que se empenham em Seu sagrado serviço negligenciam sua aparência.”[16] A roupa e as maneiras do pastor podem “destruir a influência do seu trabalho.”[17]
Em relação a outros membros da família pastoral, Ellen White acrescenta:
“Especialmente as esposas de nossos pastores devem ser cuidadosas em não se afastarem dos claros ensinos da Bíblia em questão do vestuário... a extravagancia no vestuário está em constante progresso. Ainda não é o fim. A moda muda sempre, e nossas irmãs suguem-lhe os rastos, a despeito do tempo ou das despesas.” [18]
“Nossos pastores e suas esposas devem ser o exemplo da simplicidade no vestuário; devem vestir-se com correção, confortavelmente, usando bom material, mas evitando qualquer coisa que se assemelhe à extravagância e adornos, mesmo que não sejam dispendiosos; pois essas coisas testificam contra nós. Devemos educar os jovens na simplicidade do vestuário, na singeleza e no asseio. Sejam os adornos extras deixados fora mesmo que o custo seja apenas uma ninharia.”[19]
Professores da Escola Sabatina
Ellen White escreveu muito sobre a obra da Escola Sabatina. Entre suas orientações para essa estrutura de discipulado contínuo, ela orientou os professores em seus deveres. O seguinte conselho, dado aos professores, muito bem pode ser aplicada a todo oficial de Igreja.
“No espírito, comportamento e vestuário, devem os professores [da escola sabatina] ser um digno exemplo aos jovens. Seu traje deve ser simples e modesto e seu espírito tão humilde como o de uma criança, mas puro e elevado, pois estão na presença de Deus, para representar aos alunos o caráter de Cristo.”[20]
O vestuário das famílias
Segundo Ellen White, que foi mãe de quatro filhos e esposa de um homem muito ocupado, os pais devem proteger seus filhos (em todas as idades) da moda e vestir-lhes adequadamente, salvaguardando sua saúde, caráter e fé[21].
Orientações gerais
Podemos catalogar vários conselhos práticos sobre vestuário, nos escritos de Ellen White. Além do aspecto interno (espiritual) a pioneira falou sobre o aspecto externo (prática) da modéstia. Em seus conselhos mais específicos, ela se manifesta sobre o tipo de roupa, o que usar e evitar e a importância de não prescrever um para modelo exato todos.
Conselhos práticos
“Não se sugere nenhum estilo exato que sirva como uniforme para os cristãos (OC, 419), mas o que for elegante, atrativo, limpo, de bom gosto, durável, simples, modesto e apropriado à idade e à atividade (OC, 419-431; ver também CG, 413-418; MH, 287-294; ME2, 465-479, T5, 499, 500).”[22]
“Que cada um siga os costumes no vestir até onde eles se conformem com os princípios da saúde. Nossas irmãs devem se vestir com simplicidade, como muitas o fazem, tendo vestidos de material bom e durável, modestos, apropriados para a sua idade, e não fiquem preocupadas com a questão do vestuário. Nossas irmãs devem se vestir com simplicidade. Devem se trajar com roupas modestas, com simplicidade e sobriedade. Temos que dar ao mundo um exemplo vido do anodo interior da graça de Deus.”[23]
Outra orientação específica diz respeito ao que, ao longo do tempo, veio a promover o travestismo, prática terminantemente proibida na Bíblia (Dt 22:5).
Distinção entre roupas femininas e masculinas
“Existe ainda outro estilo de vestido adotado pela classe de supostas reformadoras do vestuário imitiam o máximo possível o sexo oposto. Usam bonés, calças, coletes, paletós e botas, sendo estas ultimas as partes mais destacadas no traje [...] nesse estilo de vestuário a ordem de Deus foi radicalmente invertida e desatendidas Suas instruções especiais. ‘Não haverá trajo de homem na mulher, e não vestirá o homem veste de mulher; porque qualquer que faz isto abominação é ao Senhor, teu Deus’. Deut 22:5. Deus proíbe que Seu povo adote essa moda. Não é um traje decente, e também inadequado para mulheres modestas e humildes, que professam ser seguidoras d e Cristo[...] Deus determinou que houvesse clara distinção entre trajes masculinos e femininos, e considerou o assunto de suficiente importância para dar explícitas instruções a esse respeito, pois se o mesmo traje for usado por ambos os sexos, causaria confusão e grande aumento de crime.”[24]
Evitar a extravagância
“A Bíblia nos ensina modéstia no vestuário. ‘Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto.’ 1 Tim 2:9. Isto proíbe ostentação nos vestidos, cores berrantes, profusa ornamentação. Tudo que tenha o objetivo de chamar a atenção, ou despertar admiração, está excluído do traje modesto recomendado pela Palavra de Deus.”[25]
Roupas para a Igreja
Entre os conselhos sobre como devemos vestir-nos para assistir aos cultos da Igreja, a Sra. White recomenda asseio, decência, evitando o adorno exterior, o uso de roupas comuns de trabalho ou desleixo. “Cumpre evitar toda ostentação em matéria de roupa, que somente serviria parta estimular a irreverência,” pois a atenção das pessoas pode ser atraída e desviar o foco da adoração.[26]
“Todos os que se reúnem aos sábados para adorar a Deus devem, se possível, ter um traje correto, bem assentado, distinto, para usar na casa de culto. É desonra par ao sábado, e para Deus e Sua casa, que os que professam ser o sábado o santo dia do Senhor, digno de honra, usem nesse dia a mesa roupa que usaram durante a semana, trabalhando na lavoura, quando podem obter outra. Se há pessoas merecedoras que, de todo o coração querem honrar ao Senhor do sábado, e o culto divino, e que não possam obter uma muda de roupa, que os que têm posses dêem de presente a esses um terno para os sábado, para que apareçam na casa de Deus com vestuário limpo e assentado.”[27]
Adornos e joias
“Frequentemente me é feita a pergunta se eu creio ser errado simples golas de linho. Minha resposta sempre tem sido: Não... foram-me mostradas dispendiosas golas trabalhadas, e fitas e laços dispendiosos e desnecessários, que alguns observadores do sábado têm usado, e ainda usam por amor a demonstração e à moda. Ao mencionar as golas não desejava que se entendesse que nada que se assemelha a uma gola deva ser usado; ao mencionar as fitas, que nenhuma fita deveria ser absolutamente usada.”[28]
Sobre o uso de joias, Ellen White é taxativa. “Trajar-se com simplicidade e abster-se de ostentação de joias e ornamentos de toda espécie está em harmonia com nossa fé.” [29] As joias funcionais, logicamente, podem ser usadas com a devida moderação. A própria mensageira do Senhor usava relógios, broches e pequenos ornamentos funcionais[30].
Na obra Modéstia cristã[31], são enumerados sete princípios de modéstia cristã. A escolha do vestuário deveria considerar: Livre das exigências da moda, sem extravagância, economia no vestuário, qualidade e gosto, saúde e asseio, nenhum estilo definido foi dado, a graça e a beleza naturais.
Ribamar Diniz é mestrando em Teologia (SALT-FADBA) e pastor distrital na Missão Pará Amapá.
Referências:
[1] Jean Carlos Zukowski, Adolfo S. Suárez, Reinaldo Siqueira, Orgs. Ellen G. White: seu impacto hoje, 1ª ed. Engenheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2017), 18. [2] Alberto R. Timm, Dwain N. Esmond, ogs. Quando Deus fala: o dom de profecia na Bíblia e na história (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2017), 318. [3] Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, Vol. 2, “Maneiras e traje dos pastores”, 609-619. [4] Ellen G. White, Modéstia cristã: um ato de adoração (Unasp, EC: Centro White Press, 2013), edição eletrônica. Disponível no site www.centrowhite.org.br. Autor das compilações: Pastor Mizael Ludtke. [5] White, Mensagens aos jovens, 354-360. [6] Mensagens aos jovens, 354-360. [7] Review and Herald, 12 de dezembro de 1912. [8] Evangelismo, 272. [9] White, Testemunhos para a Igreja, vol. 4, 636. [10] White, Testemunhos para a Igreja, vol. 4, 637. [11] White, Testemunhos para a Igreja, vol. 4, 644. [12] White, Ciência do Bom Viver, 291.3. [13] White, Testemunhos para a igreja, vol. 4, 648. [14] White, Testemunhos para a igreja, vol. 2, 610. [15] White, Testemunhos para a igreja, vol. 2, 610. [16] White, Testemunhos para a igreja, vol. 2, 613 [17] White, Testemunhos para a igreja, vol. 2, 614 [18] White, Testemunhos para a igreja, vol. 4, 630-631. [19] Testemunhos para Ministros, 179-181. [20] White, Testemunhos Seletos, vol. 2, 105-106. [21] White, Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 266-477. [22] Raoul Dederen, Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, 797-798. [23] White, Mensagens Escolhidas, vol. 3, p. 242. [24] White, Testemunhos para a Igreja, vol. 1, 459-460. [25] Mensagens Escolhidas, Vol. 3, 254. [26] Orientação da criança, 419-430. [27] White, Mensagens escolhidas, V. 2, 474-475. [28] White, Orientação da criança, 422. [29] White, Testemunhos para a Igreja, V. 3, 366. [30] Manuscript Releases, v. 8, 449. 56. Ver Fagal, 101 perguntas sobre Ellen White e seus escritos, 55-56. [31] White, Modéstia cristã, capítulo I, 7-13.
Artigo de muitíssima relevância! Louvado seja o Senhor pelo seu ministério.